Andar com as próprias pernas

Receba dicas e conteúdos exclusivos para a educação do seu filho.

Por Amanda Sampaio Queiros/Revista NA MOCHILA.


“Filho é um ser que nos foi emprestado”. As sábias palavras do escritor português José Saramago tentam convencer os pais a aceitar que não são donos dos seus filhos. A maioria se vê, em algum momento da vida, diante de um conflito comum. Desejam que seus filhos alcancem independência, sejam autossuficientes; mas, ao mesmo tempo, precisam sentir que são necessários na vida deles e não vão perdê-los.  

Estimular de perto o desenvolvimento das crianças é oferecer ferramentas para que elas tenham sucesso no processo de autonomia, que vai prepará-las para a vida adulta. Os pais entram como o instrumento norteador e podem ser ou não os principais facilitadores.

“Vale lembrar que devemos preparar nossos filhos para o mundo! São as dificuldades próprias de cada idade que promovem amadurecimento.

Assim, eles aprendem naturalmente como agir em diferentes situações”, quem explica é a psicóloga clínica Natali Tiburcio.

Mas como incentivar que os pequenos ganhem autonomia sem esbarrar na permissividade ou até mesmo na negligência? Como agir, em contrapartida, de modo que a superproteção não iniba as oportunidades que as crianças precisam para crescer? De fato, encontrar o equilíbrio não é uma tarefa fácil!

+ Veja como encontrar bolsas de estudo de até 80% de desconto


Errando que se aprende

“Andar com as próprias pernas” só se faz possível quando há segurança. E esse sentimento se constrói a partir do vínculo entre pais e filhos, segundo Natali. “Os pais precisam deixar os próprios medos de lado e oferecer à criança, desde cedo, o espaço ideal para o seu desenvolvimento emocional”.

De acordo com ela, ainda bem pequenos, aprendemos com os erros, tentando, testando e fazendo. E essa oportunidade é fundamental! “Muitos tratam filhos de seis anos como bebês, pois acham que eles não têm capacidade para realizar algo apropriado para sua faixa etária. Depois, na adolescência, reclamam que são imaturos, mas não permitiram que seus filhos amadurecessem”, analisa.

O outro extremo é quando as famílias acham que seus filhos se saem muito bem sozinhos, pois são eloquentes, argumentadores e conversam com todo mundo. Ou seja, mostram-se praticamente independentes e não precisariam quase nunca da intervenção dos adultos.

“Esses pais não conseguem perceber que a inteligência dos filhos não significa independência antes da hora certa. Olhar a situação assim pode ser uma forma de negligência”. Quem alerta é a psicóloga Valéria Lisboa, Doutora em Ciências Aplicadas a Pediatria.



Crescer inseguro

“A superproteção ou a negligência podem levar a criança a ser um adulto inseguro ou, em casos mais graves, favorecer o surgimento de depressão, ansiedade, crises de pânico, sinais de delinquência, entre outros problemas” explica Valéria.

Em alguns casos, é possível entender melhor a resistência por parte dos pais em oferecer autonomia aos filhos, se observar a história de vida dos próprios adultos. Muitos passaram por problemas emocionais e familiares ou carregam grandes inseguranças, inclusive a de perder o amor do filho.

Há outros tipos de situações em que os ganhos da autonomia da criança não são naturais. Ela pode ser induzida a desenvolver mecanismos de independência precocemente, na tentativa de se adaptar ao meio em que vive.

“É comum observarmos pais que delegam a terceiros todo o processo de desenvolvimento dos filhos. Ausentam-se da responsabilidade de estarem presentes em momentos da vida da criança, devido ao excesso de trabalho ou aos apelos sociais”, analisa Valéria Lisboa.



Responsabilidade

A noção de responsabilidade, assim como quase todas as outras na educação, nasce com o exemplo. Uma atitude que aparentemente pode ser inocente passa mensagens que construirão valores.

É importante deixar que a criança assuma as consequências de uma decisão que ela tomou. Intervir “a favor” do filho pode ser prejudicial. Exigir que a escola abra exceções às regras ou deixar de lado o comportamento ético, visando o bem individual, é, certamente, uma influência muito negativa, segundo Natali Tiburcio. “Vi, inúmeras vezes, pais indo à escola para pedir que a professora ‘desse um jeitinho’, pois o filho foi a uma festa no dia anterior e não conseguiu fazer a lição de casa”, conta.

Uma realidade que não muda, independentemente do contexto ou circunstâncias, é que crianças precisam do olhar e da influência do adulto para se desenvolverem plenamente. “Essa dependência vai se tornando cada vez menor, mas ela nunca termina, ela se transforma em outras necessidades”, afirma Valéria Lisboa.



Dicas para desenvolver a autonomia nas crianças:

1) Dar espaço para os filhos desenvolverem suas habilidades;
2) Aceitar que os filhos crescem;
3) Incentivá-los a aprender;
4) Demonstrar interesse pelos assuntos dos filhos;
5) Aprender a dialogar, ouvir e valorizar as ideias deles;
6) Ter tempo para brincar e conversar com eles;
7) Não delegar para outros a responsabilidade de exercer a maternidade/paternidade;
8) Ensiná-los a lidar com as emoções, permitindo a presença de sentimento de frustração, amor, raiva, medo e ansiedade, por exemplo.


Entrevistados:

Natali Tiburcio, psicóloga com especialização em Psicopedagogia
Valéria Lisboa, psicóloga Clínica e da Saúde com Doutorado em Ciências Aplicadas a Pediatria pela UNIFESP

 

Fonte: Artigo desenvolvido pelo projeto NA MOCHILA, que em parceria com as escolas oferece uma revista por bimestre aos pais de alunos do ensino Infantil e Fundamental I. Para saber mais sobre o projeto, clique aqui.